AGROSOFT 95
Feira e Congresso de Informática Aplicada à Agropecuária e Agroindústria
Potencial e Aplicações de Sistemas de Apoio à Decisão para Empresas Rurais

Contato
Luciel Henrique de Oliveira
CDA - EAESP - FGV e Unifenas
Cx. Postal 23
37.200-000 - Alfenas - MG
e-mail: luciel@bc.unifenas.br

Autoria
Luciel Henrique de Oliveira- CDA - EAESP - FGV - Unifenas

RESUMO
A tomada de decisão, a administração e o planejamento da empresa rural torna-se mais fácil, eficiente e eficaz através do desenvolvimento de Sistemas Inteligentes de Apoio à Decisão (SAD`s). Todos os produtores rurais podem e devem utilizar-se da Tecnologia de Informação (TI) para melhorar seus resultados operacionais, através de um planejamento mais eficiente do uso dos recursos disponíveis; da orientação do quê, quando, onde e como produzir; e através do acesso à informação mais correta e consistente sobre quando, onde e por quanto vender sua produção. As aplicações deverão seguir duas direções principais: a) voltadas à problemas rotineiros, operacionais e de pouca complexidade; b) aplicações mais elaboradas e complexas, envolvendo regras e especificações, abrangendo o planejamento estratégico da empresa rural.

ABSTRACT
The decision making, the farm management and the planning of the rural enterprise, become easier, efficient and efficacious by the development of the Intelligent Systems for Decision Support Systems (DSS`s). The rural entrepreneurs can and must use the Information Technology for increase your operational results, by the more efficient planning for use of the disposable resources; by the orientation of what, when, how and where to produce; and by the access to the rights and consistents information's about when, where and for how much they must sell your production. The applications must follow two main directions: a) for the routine and not complex operational problems, b) for the elaborated and complex applications, involving rules and specifications, for the planning of the rural enterprise.

1. Introdução

Este trabalho pretende mostrar o potencial de aplicação da Teconogia de Informação (TI) e apresentar alternativas tecnológicas para suporte às decisões na administração das empresas rurais. Considerando os recursos atualmente disponíveis, pretende-se mostrar possíveis aplicações da TI às empresas rurais em geral, independente de seu porte, tipo ou volume de atividades. Parte-se do princípio de que todos os produtores rurais podem ser beneficiados pelo uso da TI em na administração de sua empresa rural.

2. Visão geral sobre a tomada de decisão nas empresas rurais

As decisões relevantes para aplicação dos sistemas de informação na empresa rural envolvem dois níveis: Nível estratégico: envolvendo o longo prazo e com alto grau de incerteza, decorrentes, naturalmente, das variáveis ambientais e, no caso do setor agrícola, de suas características peculiares; Nível gerencial: enfocando a escolha e captação de recursos distribuição e venda dos produtos, envolvendo as várias linhas de explorações.

Decisões na área de produção englobam: a definição dos sistemas de produção para cada exploração da empresa rural, o lay-out e o dimensionamento dos recursos de produção. A decisão de produzir e a de vender na agropecuária, estão separadas no tempo. Existem vários fatores, que tornam a tomada de decisão na empresa rural mais difícil: a) Fatores externos: condições climáticas, os preços do mercado, a legislação e as instituições vigentes e a política agrícola. Estes podem ser também chamados de fatores incontroláveis. b) Fatores internos: escolha da maquinaria e das linhas de exploração, os limites e aplicação de fertilizantes e defensivos, etc. São os fatores mobilizados pelo produtor, sobre os quais tem controle direto, por isso são também chamados fatores controláveis. Assim, o setor agropecuário apresenta características peculiares, que o distingue dos demais setores da economia, e a sua existência condiciona a adequação dos princípios gerais de administração, utilizados no setor urbano, para o setor rural. Estes fatores evidenciam a importância e a necessidade de decisões bem feitas para a gestão das empresas rurais.

3. Perfil dos tomadores de decisão em empresas rurais

As informações para a tomada de decisão existem e estão disponíveis, mas seu uso ainda é muito restrito, ficando apenas limitado à pequena classe dos produtores mais capitalizados e mais ligados aos setores de vanguarda da administração, economia e informática. Estes empresários têm acesso a fontes de informações mais seguras, e utilizam a TI para sua tomada de decisão. Mas na mairia das vezes as decisões na empresa rural são tomadas baseadas na experiência dos empresários, ou em informações provenientes de fontes incertas ou pouco precisas, como TV, rádio e jornais. Não são feitos planejamentos detalhados por ausência de informações antecipadas. A maioria dos empresários rurais brasileiros, principalmente os pequenos e médios, decidem o quê produzir, quanto, quando e com que tecnologia, baseados em recomendações de amigos, de vendedores de insumos para agropecuária, ou na melhor das hipóteses de técnicos extensionistas.

4. Potencial de Aplicação dos SAD's nas Empresas Rurais

Estudos pioneiros foram feitos no sentido de desenvolver SI's específicos para as empresas rurais, podendo-se citar BENYON, SARGENT & NICHOLLS (1992), que desenvoveram um SI para orientação de produção e comercialização de hortifrutigrangeiros no Reino Unido; FULLER (1987), que trabalhou com SI para planejamento e controle da produção em fazendas leiteiras nos EUA; FAWCET (1991), na Nova Zelândia, que desenvolveu SI's para análise de pontos críticos de risco, resultando em melhor treinamento e aumento de lucratividade; e OHLMER (1988), na Alemanha, utilizada Sistemas Especialistas (SE`s) para análise da eficiência econômica de fazendas.

O Potencial de uso de SAD's e dos Sistemas Especialistas (SE's) na administração rural, pode ser assim resumido: a) Interpretação, onde os SE's inferem descrições de situações a partir de dados obtidos por sensores; b) Predição, na qual se inferem as conseqüências que podem decorrer de determinada situação; c) Diagnose, onde, a partir de observações sobre o comportamento de um sistema, se inferem possíveis problemas de funcionamento; d) Configuração (design), correspondendo à organização ou arranjo de objetos sob restrições; e) Planejamento de ações, atividades, investimentos, etc.; f) Controle de processos produtivos, onde são comparadas observações a respeito de um sistema com determinados padrões pré-estabelecidos; g) Controle geral, englobando a interpretação, predição, reparo e, monitoramento do comportamento de sistemas produtivos; h) Modelagem de processos, relações e fluxos de informações, para identificar pontos forte e fracos e necessidades de melhorias; i) Depuração: prescrição de soluções ou alternativas para o mal funcionamento de sistemas; j) Reparo, onde SE's executam planos para administrar determinadas prescrições; k) Instrução, englobando o ensino e monitoramento do aprendizado dos funcionários e decisores na empresa rural.

O uso de SADs permite a representação de conhecimentos de tomadores de decisão experientes. A partir daí, as conseqüências prováveis de decisões alternativas podem ser avaliadas, principalmente se os SE's forem usados como componentes de sistemas mais abrangentes de apoio à decisão, integrados a Sistemas Gerenciadores de Bancos de Dados, permitindo a execução de modelos de simulação ou otimização no processo de avaliação de decisões. Os SAD's permitem o acesso a conhecimento que transcendem a especialização profissional de um usuário isolado, o que é importante para problemas que devem ser resolvidos com conhecimentos multidisciplinares. Profissionais experientes em áreas como análise de mercado, ou estimativa de custos de produção, poderão manter os aspectos mais relevantes deste conhecimento disponíveis em SE's. Órgãos de planejamento poderão utilizar SE's para padronizar metodologias de previsão de safras. Extensionistas poderão utilizar SE's para aconselhar produtores sobre alternativas de financiamento, práticas de cultivo e outras aplicações.

A tomada de decisão e o planejamento da empresa rural melhoram com do desenvolvimento de sistemas que incorporem bases de dados e procedimentos simples ou até mesmo modelos matemáticos abrangentes, considerando as funções de armazenamento, consulta e alterações de dados sem perder a integridade dos mesmos, OLIVEIRA & SILVA (1995). Sem um SI específico para detectar defeitos e falhas, melhorias na qualidade raramente são possíveis. Os SI`s das empresas rurais devem ser detalhados, pois sem informações não é possível isolar problemas de qualidade - o sucesso exige planejamento de detalhes, que são abundandes na produção agropecuária. Segundo OLIVEIRA (1994), este é um dos pontos mais importantes da nova estratégia competitiva das empresas em geral, e particularmenrte das empresas rurais, devido à suas peculiaridades como a irreversibilidade do ciclo produtivo, a extrema dependência do clima, a sazonalidade de produção, etc.

No Brasil, durante muito tempo as aplicações ficaram restritas ao planejamento, orçamentação, análises de custos de produção e controles financeiros feitos através de planilhas eletrônicas. Estudos específicos para a aplicação de SI's nas empresas rurais brasileiras ainda são muito recentes, podendo-se citar os trabalhos de SILVA Jr. (1993), para o controle financeiro de fazendas leiteiras; de MOURA (1995), para o planejamento da avicultura de corte; de OLIVEIRA & SILVA (1995), que desenvolveram um SAD para o planejamento de culturas anuais, baseado no modelo de Programação Linear; e de VELOSO et alii (1992) , que trabalham com o planejamento agropecuário através de modelos matemáticos. No entanto o país já conta com recursos tecnológicos e órgãos especializados no fornecimento de informações relevantes para a tomada de decisão no setor agropecuário. Pode-se citar, por exemplo a Bolsa de Mercadorias de São Paulo (BM&F), que dispõe de informações atualizadas "on-line" sobre a cotação dos principais produtos agropecuários, fazendo inclusive uma previsão das tendências dos preços (mercado futuro); e o sistema de informações agrometereológicas, disponível em uma BBS mantida pela Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz (ESALQ-USP).

5. Recursos necessários e Implantação

Os recursos de hardware para operar um SAD para as empresas rurais não implicam em grandes investimentos. Um computador com microprocessador 386 ou 486 e uma impressora matricial são suficientes, não exigindo nenhum componente adicional. Dentre os recursos de software necessários podem ser citados os shells específicos para o desenvolvimento de SAD's ou SE's, e os modelos matemáticos e estatísticos para análise e suporte à decisão, como por exemplo a programação linear e não linear, a simulação, a análise de regressão e correlação, entre outros. O SAD deve ser desenvolvido baseado no uso de gerenciadores de bancos de dados, permitindo o máximo de integração e flexibilidade, principalmente para os usuários finais, mesmo que com uma menor performance no processamento, quando comparado com sistemas desenvolvidos em linguagens tradicionais de desenvolvimento (3ª geração).

O potencial de uso dos SAD para a administração rural foi muito ampliado pelo surgimento dos "Shells", para o desenvolvimento de SE's. Dentre os "Shells" mais conhecidos pode-se citar: GURU, Personal Consultant, Level 5, Knowledge-Pro, Crystal, Nexpert-Object, VP-Expert, etc.

Com relação aos recursos humanos necessários para a implementação dos sistema, a maior necessidade é de conscientização dos benefícios trazidos pelo sistema, e da necessidade de segurança e exatidão dos dados. Também são importantes treinamentos para o desempenho correto das tarefas e para o uso adequado do sistema e de todo o seu potencial.

6. Resultados Esperados

Um bom SAD pode suprir as necessidades operacionais da empresa rural e permitir a melhor tomada de decisão. O desenvolvimento de SAD para as empresas rurais pode auxiliar no planejamento das operações rotineiras da empresa, maximizando o uso dos recursos disponíveis, e também no planejamento estratégico, de longo prazo. Tudo isso pode ser feito de uma forma amigável, facilitando sua adoção e implementação prática, contribuindo para resolver os principais problemas relacionados à gestão de empresas rurais: avaliação econômica dos sistemas de produção, dimensionamento dos recursos disponíveis na empresa rural, otimização e interpretação das melhores soluções possíveis em cada caso.

7. Conclusão

Os resultados positivos descritos na literatura internacional, bem como os trabalhos pioneiros desenvolvidos no Brasil, evidenciam a necessidade de pesquisas e esforços para o desenvolvimento de sistemas inteligentes integrados e adaptados à realidade brasileira, consistindo em uma original e relevante área de pesquisa para a Administração Rural.

Questiona-se a relação custo/benefício e capacidade do pequeno produtor, do produtor descapitalizado, simples, humilde e às vezes até mesmo semi-analfabeto utilizar-se desta tecnologia. A relação benefício/custo deve estar adequada ao volume de negócios da empresa. Não espera-se que todos os produtores comprem um microcomputador, que façam cursos de operação e programação e comtratem analistas de sistemas. Acredita-se que todos os produtores rurais podem e devem utilizar-se da TI. O acesso à tecnologia não demanda, necessariamente altos investimentos. Um empresário pode adquirir um microcomputador e instalá-lo em seu escritório na sede da fazenda, ou pode até mesmo trabalhar em redes locais, nos casos de empresas maiores. Por outro lado, uma cooperativa ou mesmo um sindicato rural pode fazer este investimento, constituindo um centro de informações para os pequenos produtores, que poderiam beneficiar-se da tecnologia disponível, melhorando a qualidade de suas decisões, e seu planejamento, sem contudo, investir em equipamentos ou sistemas.

8. Bibliografia

BENYON, C.M.G., SARGENT, M. J. & NICHOLLS, J.R. The use of horticultural business management advice. Farm Management. England, UK., 1992, 8:3, p. 125-30.

FAWCET, P. R. Development of quality management at farm level in new regulatory environment. XXIII International Dairy Congress, Montreal, October 8-12, 1990. Vol.2. 1991, 1060-5. Brussels, Belgium; International Dairy Federation.

FULLER, E. I. A profitability perspective on the further development and use of formalized dairy farm control and planning systems. Staff-Papers, Department of Agricultural and Applied Economics, University of Minnesota, USA. 1987, nº P87-24, 23p.

HAYES-ROTH, F.; WATERMAN, D. & LENAT, D. An overview of expert systems. In: Building Expert Systems, Addison-Wesley, London, 1983.

MOURA, A. D. de B. Sistema Inteligente de Apoio à Decisão: uma abordagem alternativa para a análise econômica da Produção de Frangos de Corte. Viçosa, UFV, Imp. Univ. , 1995. 88p. (Tese de M.S.)

OHLMER, B. Analysis of economic efficiency in farms. In: Deutsche Landwirtschafts- Gesellschaft (Ed.) : Knowledge based systems in agriculture -prospects for application. Proccedings of the international DLG congress for computer technology. Frankfurt, 1988.

OLIVEIRA, A.J. & SILVA, C.A.da Um sistema Inteligente de apoio a decisão para o planejamento anual de empresas rurais. In: 1º Congresso Brasileiro de Administração Rural. Lavras, UFLA-ABAR, 1995.

OLIVEIRA, L. H. Excelência na Administração Rural: Introduzindo a Qualidade nas Empresas Rurais Brasileiras. In: Anais do 18º Encontro Nacional da Associação Nacional dos Programas de Pós-Graduação em Administração. ANPAD, Curitiba, PR, 1994. p.
SILVA Jr. A.G. da Um Sistema de Suporte à Decisão Integrado a Sistemas Especialistas para o Gerenciamento de Fazendas Produtoras de Leite. Viçosa, UFV, Imp. Univ., 1993, 97 p. (Tese M.S.)

VELOSO R.F.;et alii. Farm Planning for the Brazilian "Cerrado" Region: A Planning Framework for Crop Farm Development. In:Proceedings of the 4th International Conference of Computers in Agricultural Extension programs. January 28-31, 1992, Orlando, USA, 1992. P. 13-18